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Movimento total

Movimento total

Sinopse

Pode-se ler este livro como uma alegoria: o deserto em que vagueia o anacoreta, por entre penhascos e areia, tudo povoado por fantasmagorias e alucinações, é também o da literatura, aquele espaço literário, já esva-ziado, repleto de tentações, e que Maurice Blanchot, num gesto de pura e absoluta genialidade, soube ler, de modo tão preciso quanto complexo, como etapa decisiva na formação da chamada literatura moderna. Aliás, seria toda uma outra e longa história pensar no deserto como espaço formador da própria literatura: neste caso, deserto é, ou pode ser, sinônimo de recusa e de negatividade, uma das categorias fundamentais, como se sabe, do moderno em literatura e nas artes. É um arco tenso: desde o que há de desértico na Mancha, de Cervantes e do comovente Cavaleiro da Triste Figura, até aquele dos tártaros de Buzatti. Ou aquele capaz de provocar o aparecimento de um pomar às avessas, como está no João Cabral de Psicologia da composição. A tensão do arco se desfaz, no entanto, pela entrega às tentações da positividade que são os significados sem risco: a aceitação da lite-ratura que diz, com certeza, algumas coisas já consumidas pela tradição literária. Flaubert sabia disso e a primeira grande tentação era aquela do conheci-mento enciclopédicoque viria eliminar o deserto por uma acumulação impiedosa de livros e saberes cuja maior crítica ele haveria de realizar em Bouvart e Pécouchet. Este livro deixa ver, de modo incipiente, como cabe a obras iniciais, traços dessa resistência e, por que não dizer, dessa luta sobre-humana em pró da recusa e do risco. Não é a isso que se chama de flaubertiano, por excelência, a essa luta pelo esvaziamento de um espaço que deve ser assumido pelo rigor quase suicida da linguagem? João Alexandre Barbosa